Apaixonar-se é assim, como num jogo de roleta, de repente você está passando distraído e num impulso lança mão de suas fichas mais preciosas numa aposta, a roleta gira, gira rapidamente, não para você que observa lentamente a bolinha desejada pular e rebater revolta em todos os cantos da giratória.
Neste instante interminável você imagina o que pode acontecer se a bolinha cair onde deseja, você imagina uma felicidade incrível e ao mesmo tempo ensaia um sorriso triste de pensar na derrota.
Então ela para, inevitavelmente ela para, seria melhor a expectativa eterna da esperança, você imagina, mas às vezes ela para num número mágico, aquele número em que você apostou todas as suas fichas.
Os risos e alegrias são incomparáveis, o primeiro beijo, aquele segundo mágico entre a incerteza e a certeza do primeiro beijo quando já se sente o aroma da respiração alheia mas ainda não se tocaram os lábios. A bolinha caiu para você. Num futuro possível, e até comum, você perde todas as suas fichas numa nova tentativa de ganhar mais ou simplesmente transforma sua vida com os louros da vitória merecida pela audácia e coragem de jogar.
Mas nem sempre é assim, na verdade quase nunca é assim. Se a vaidosa bolinha miúda decide cair noutros números e lhe retira de assalto aquele suspiro decepcionado, não se entristeça, a culpa não é da bolinha rebelde, não é sua também, pois triste é quem vive sem jogar a roleta da vida, nem são essas suas fichas definitivas, certo que a sensação de miséria interminável parece não ter cura e você se retira por um tempo da mesa prometendo não jogar mais, mas um dia suas economias estarão novamente repostas, a mesa estará lá, tão verdinha lhe esperando que você se esquece das derrotas e novamente atira ao veludo ganancioso todas as suas novas fichas.
Tudo de novo, a bolinha (uma nova ou aquela mesma mais desgastada por jogos sem valor), a roleta, o jogo, talvez você possa ser cauteloso e jogar menos desta vez, mas a vontade de ganhar normalmente nos faz apostar mais, ainda mais, para compensar as derrotas passadas.
O fim, bem, não existe fim, a bela bolinha pode cair em qualquer lugar e a aposta pode ser intencionalmente alta a fim de se quebrar todas as bancas ou despretensiosa, como quem não quer nada, o que importa é não ter medo de jogar, pois as fichas acabam do mesmo jeito, mas a roleta da vida que gira trazendo novas e velhas bolinhas, essa não para nunca.
Nando Cruz