Sexo tântrico em dez lições


clip_image001Massagem erótica ou técnica que garante uma transa quente sem hora para acabar?

Numa época em que para se estar de bem com a vida todos os caminhos levam ao autoconhecimento, encontrar a fórmula de prolongar o prazer deixou de ser projeto de meia dúzia de curiosos para se tornar um pressuposto da modernidade. Essa ânsia pela busca do orgasmo "eterno" fez do tantra o frenesi do momento. Como uma das sete linhas clássicas da yoga, ainda confunde os leigos. Há quem o considere uma técnica de massagem erótica, outros, a garantia de uma transa intensa sem hora para acabar. Dizer que o tantrismo é apenas a possibilidade de permanecer com o pênis ereto por várias horas não esclarece muito. SexWay ouviu especialistas e praticantes e elaborou um questionário para mostrar ao leitor que, como quase tudo o que vem do Oriente, o tantra também é uma filosofia.

1 - O que é tantra?
É uma filosofia de comportamento de origem indiana que envolve o sexo, a organização social, cultural e moral dos indianos. Para o mestre De Rose, presidente da Confederação Nacional e da União Internacional de Yôga, sua finalidade é conduzir o ser humano ao mais alto conhecimento da evolução por meio do prazer.

2. Vale como terapia sexual?
Na realidade, não existe um tantra puramente sexual, mas sim um conjunto de normas de vida que deságua numa relação sexual onde é possível conseguir o máximo de prazer. Segundo o professor Cláudio Duarte, que viveu muitos anos na Índia e atualmente é presidente da Associação Brasileira de Yoga, o tantra descrito nos textos clássicos da Índia preocupa-se primordialmente com a saúde, a alimentação, a higiene, a organização do lar e a espiritualidade. Neste caso, o sexo (chamado maituna) é a manifestação mais natural da relação entre homem e mulher. Por isso, ele é isento de inibições, bloqueios, medos ou vergonha.

3. Homens que praticam sexo tântrico seguram o orgasmo e têm ereções que podem durar horas?
De Rose garante que um tantra não permanece menos de três horas fazendo amor, seja qual for a idade dos parceiros. Esta performance só pode ser alcançada quando o orgasmo é protelado para a relação sexual seguinte e assim sucessivamente, diminuindo o número de orgamos. "O resultado é um estado paranormal de hiperestesia erógena (muita sensibilidade) durante a relação sexual denominado hiperorgasmo", explica o mestre. É algo como ir exarcebando o prazer físico a uma tal dimensão que ele extrapole os limites físicos.

4. Quanto pode durar uma sessão de sexo tântrico?
"Até mais de cinco horas", afirma Cláudio Duarte. Só que há intervalos e, durante este tempo, o homem pode ficar sem ereção. É claro que na Índia, onde a vida é mais saudável, serena e espontânea, a prática sexual tântrica tem mais resultados. "Não existem as tensões das grandes cidades ocidentais", diz o professor, "o nível de sedentarismo é baixo e até as classes sociais de menor poder aquisitivo têm acesso ao lazer. Todo esse ritual é responsável por uma leveza física e espiritual que deixa as pessoas sensíveis às percepções e sensações sem esquecer que o amor é fundamental entre os parceiros", ressalta.

5. O que há de diferente numa transa comum e no sexo tântrico?
Segundo o jornalista Máximo Silva, adepto do tantra, para o homem ocidental uma relação sexual limita-se a uma penetração seguida de ejaculação, mas para o tantra é diferente. "Com o tempo, a minha disponibilidade de descobrir novas sensações via sexo cresceu. Minha autoconfiança também e consegui melhorar e, muito, o meu prazer.
No tantra, a relação sexual é como um ritual diário que deve ser realizado sem pressa e com bastante sentimento. "Faz parte da educação tântrica não montar na mulher como se fossem dois animais no cio e, sim, iniciarem o processo com mútua contemplação e adoração, com palavras doces e carícias plenas. Sem dispersão, sem agressividade, sem transmitir a impressão de que aquilo está sendo feito por obrigação", ensina De Rose.

6. Há alguma particularidade de posição do homem ou da mulher?
Sim, geralmente a mulher fica por cima. A explicação filosófica dessa preferência é a de que a companheira tântrica representa Shaktí, a deusa. Ele, o adorador da Shaktí, fica por baixo. Na verdade, essa alegoria esconde uma razão de ordem prática: a mulher por cima possui em vez de ser possuída.
E como comanda, ela pode buscar mais atrito nas zonas em que têm mais sensibilidade. Deve-se evitar movimentos rápidos e grosseiros. Muito carinho é a lei.

7. Do ponto de vista orgânico, o que acontece durante o sexo tântrico?
O mecanismo biológico do tantra baseia-se em manter altos níveis de hormônios sexuais por meio da técnica de produzir excitação e conter o orgasmo. "Não deixando a energia se esvair, o organismo mantém uma disposição constante para o ato sexual", afirma De Rose. Segundo ele, a relação sexual libera endorfina e reduz a incidência de doenças fatais. Endorfinas são substâncias semelhantes à morfina, só que são produzidas pelo próprio organismo em situações biologicamente prazerosas.
A endorfina tem o poder de reduzir a dor, combater o estresse e a depressão proporcionando alegria de viver.

8. O que é preciso para se chegar lá do jeito que os adeptos chegam?
Não é tão fácil. O tantrismo exige sérios cuidados na alimentação. Bebidas alcoólicas, cigarros e qualquer tipo de drogas estão definitivamente vetados. Também é proibido o consumo de carnes vermelhas ou brancas e de alimentos gordurosos. O tantra aprecia cereais integrais, vegetais e frutas. Bebe muita água, sucos naturais e leite. O ambiente para fazer sexo deve ser calmo, acolhedor, rescender a incenso e ser embalado por música tranqüila e suave. Para a empresária e também professora de yoga Marly Oberch, fazer sexo não é apenas transar. "Uma vez por semana eu e meu namorado dedicamos uma noite inteira só para nós. Fazemos amor três, quatro vezes. Ficamos mais sensíveis aos odores, toque, olhar e entendimento. Mas a nossa relação é boa, principalmente, porque nos amamos. Quando se ama os rituais se tornam dispensáveis."

9. É possível se tornar um tantra numa sociedade de valores e costumes tão diferentes quanto a ocidental?
Para o professor Duarte, aderir à filosofia não é impossível. Basta disposição para melhorar a qualidade de vida, começando por eliminar tudo o que for nocivo à saúde. Depois, é só adotar posturas que respeitem seu interior e o do próximo. Para o mestre De Rose, porém, a proposta ocidental contemporânea de fazer sexo ainda é primária, institiva e o seu refinamento está voltado para a reprodução. Ele afirma também que a finalidade do sexo no Ocidente é chegar ao orgasmo, enquanto o tantra oferece a possibilidade de usufruir da prática em si mesma.

10. O tantra pode mudar a sua vida?
O tantra pode melhorar a sua qualidade de vida. Marly Oberch diz que a simples prática do yoga já lhe trouxe bons resultados. "Ela faz com que me sinta mais flexível, menos angustiada e tensa, que são condições determinantes para ter um sexo mais agradável." Máximo Silva, por sua vez, esteve sempre preocupado em aprimorar a qualidade de suas relações sexuais e conseqüentemente de sua vida. "Identifiquei-me com o que ela prega e me considero tantra por natureza. Intuitivamente sempre acreditei que prolongar o prazer possibilita chegar a dimensões profundamente agradáveis. Acho ótimo", afirma.O caminho do Tantra


As exigências do tantra são difíceis, mas você pode começar mudando seus hábitos aos poucos.
1. Inspirar e expirar somente pelas narinas de maneira calma e suave todos os dias.
2. Manter a coluna sempre ereta procurando evitar tensões musculares.
3. Relaxar meia hora, diariamente, de manhã ou à noite.
4. Dormir pelo menos oito horas por noite.
5. Alimentar-se de maneira equilibrada evitando os excessos de qualquer natureza.
6. Praticar exercícios físicos e respiratórios suaves duas ou três vezes por semana, incluindo técnicas de alongamentos orientais do Hatha Yoga.
7. Procurar manter o equilíbrio emocional e psicológico.
8. Evitar a companhia de amigos que arrastam para noitadas fúteis.
9. Ter uma vida ética, disciplinada, buscando a paz interior.
10. Ter uma profunda fé em Deus, em si próprio e respeito ao próximo.

Por Neusa Maria Pereira. Consultoria de Cláudio Duarte (Curso Intensivo de Mantra), De Rose (professor da Universidade de Yoga do Brasil) e Sônia Penteado (Hospital das Clínicas).
Publicada na revista SexWay, ano 1, n°11.